Diu de dói
Ocasionalmente a minha filha I. diz "eu di" quando queria dizer "eu dei". O português é mesmo difícil, nós percebemos.
Sendo igualmente difícil, acredito que Diu se podia chamar Dói e continuava a fazer sentido - não enquanto sigla, mas enquanto dor.
Quando era pequena, 11, 12 anos, estava na rua a caminho de casa e um jornaleco qualquer de terra andava a entrevistar pessoas sobre grandes desejos. Talvez o totoloto tivesse um grande prémio nessa semana. Os meus colegas diziam "ser rico". Eu disse que era casar e ter filhos. Podíamos pensar que quem nasce lagartixa não chega a jacaré (se calhar não chega). Ou então, e eu prefiro esta, estou focada deste pequenina no que realmente importa.
Seja qual for a versão oficial desta interpretação dos factos, ter filhos foi uma coisa que quis sempre. Já a manifestava aos 12 anos, mas ao longo da vida foi igual. Por aqui já devo ter falado cem vezes disso (lembro-me desta - quando ainda só tinha um: Já expressei publicamente por diversas vezes o meu desejo de ter quatro filhos. Pode não chegar a acontecer mas no futuro, quando for muito velhinha, poderei variar o meu discurso entre "ter tido exactamente os filhos que sempre quis" ou "se pudesse tinha tido mais x filhos (a saber, 1, 2 ou 3).")
Este post tem oito anos. Aconteceram imensas coisas em oito anos, nomeadamente, tive mais duas filhas. Continuo a querer ter quatro mas hoje sei que não vai acontecer.
No nosso quarto está uma frase que diz que o segredo de termos tudo é saber que já temos tudo. E é verdade. Acredito profundamente nela, é sobre gratidão, é uma forma de viver a vida. Eu estou imensamente grata. E gostava de não acrescentar aqui um "mas"... Mas.. a verdade é que queria muito ter quatro filhos. Adoro de amor as minhas três mas isso nem é argumento. Porque adorava de amor a primeira e tive outra; e adorava de amor as duas quando tivemos a terceira. Não é essa a questão. A questão é a vida que imaginas, o que idealizas, os sonhos que tens, os projectos que fazes, as visões que projectas, o futuro que imaginas, todas as imagens que te passam pela cabeça, o que queres mesmo. E eu queria mesmo ter quatro filhos. E sim, o Diu não é uma laqueação de trompas mas esse nem é o ponto. O ponto é que o Diu é só a manifestação prática da decisão que foi tomada de não ir além dos três. Por isso sim, dói e nem é físico e estou triste e tenho direito, mesmo que passe a seguir, mesmo que seja o racionalmente mais lógico, mesmo que não sei o quê. Não importa. Hoje não foi um dia bom.
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