Vamos falar de trabalho



Vou ser clara, directa, bruta: não suporto o meu trabalho.

Mudei de funções há dois meses e foi um erro tremendo. Ir trabalhar todos os dias custa-me horrores; acordo a pensar onde será que se entrega a carta de demissão; domingo depois de almoço já estou a sofrer por antecipação e sinto-me muito melhor agora depois de ter deitado tudo cá para fora.

A empresa onde trabalho tem no entanto coisas maravilhosas. O meu horário é muito bom, tenho imensa flexibilidade, as pessoas são simpáticos, há benefícios bons para as famílias and so on.

Não sei bem o que é preciso para não se deixar o trabalho - se basta que se goste de alguma coisa, por pequena que seja (a vista do escritório) ou se é mesmo necessário gostar-se daquilo que se faz. Ainda não me despedi por isso inclino-me para a primeira opção mas sofro um bocado com isso.

O meu trabalho é chato, não lhe rconheço qualquer mérito, não tem brilho, não vejo qualquer luz. Sei que ainda passaram apenas dois meses, que em termos de carreira não é nada, mas estou literalmente a bater com a cabeça na parede, sem saber bem quanto mais tempo aguentarei.

Claro que eu podia simplesmente mudar - admitindo que podia não ser assim muito díficil. Arranjava outra coisa que me dessse mais gozo, que fosse mais interessante ou pelo menos não tão insuportável (isso já aconteceu em outras alturas da vida). Podia fazer isso, podia. Mas depois perdia tudo o resto e é aqui que eu sei que para mim a carreira está tão longe de ser uma prioridade, que até a mim me surpreende um pouco. 

O horário que tenho, os dias de férias, a possibilidade de de vez em quando trabalhar em casa, a flexibilidade para tudo o que é preciso permitem-me estar mais perto da minha filha, mais disponível. Dá-me bons finais de tarde para brincar e muitos dias no ano para estar com ela. Não encontrava isto noutro sítio. E pelo menos para já tem sido o mais importante e o que me faz ir suportanto este trabalho de que não gosto. 

Tenho mais ou menos como dado adquirido que a generalidade das pessoas não gosta do trabalho que tem - oxalá esteja errada - o que faz com que me sinta menos extraterreste. Mas não posso deixar de pensar o quão frustrante é sermos escravos do dinheiro, das contas, das despesas e nos vermos obrigados a passar metade da nossa vida a fazer aquilo de que não gostamos.

(Ainda assim, e esta é seguramente a nota mais importante a retirar daqui, sem prejuízo de tudo o que disse: graças a Deus por termos trabalho).

1 Coisas dos outros

  1. Como te compreendo! A única diferença que temos entre nós é que no meu nem os horários são bons.

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