So what?
Uma das manifestações mais evidentes do meu provincianismo dá de si nos aviões. Não vamos voltar à temática "pânico a bordo", o que só por si já é bem reveladora da coisa, mas foquemos antes na aterragem, aquele breve momento em que as rodas do avião atingem o solo e podemos todos respirar de alívio outra vez. Atentemos também naquele breve instante em que, na dúvida, as pessoas batem palmas. Uma grande salva de palmas, uma enorme ovação. E eu sou uma dessas pessoas, pronto já disse.
Sei que neste momentos há olhares, mas é mais forte que eu. A felicidade que sinto por o piloto me ter levado de um ponto ao outro em condições de segurança e de não se ter despenhado céu afora, é algo que, honestamente, nem as palmas exprimem. Depois perguntam-me se quando faço o meu trabalho também recebo palmas. Mas, caramba, não está bom de ver que o meu trabalho não tem nada a ver com transportar pessoas de forma sã e salva? Que o meu trabalho não é voar? Seres que levam os aviões nas mãos, esses sim, merecem todo o meu reconhecimento, agradecimento e todas as palminhas do mundo, se com isso poderei continuar a garantir que vão fazendo a coisa como deve ser.
De notar ainda que as ovações são tão mais entusiasmadas quanto mais atribulado é o voo. De tal forma que, quando aterramos no México, depois de quase dez horas do voo em que se ouviu dezenas de vezes "daqui é o vosso comandante, vamos atravessar uma zona de turbulência, queiram por favor regressar aos vossos lugares e apertar os cintos de segurança", por minha vontade teria feito ali mesmo uma estátua ao santo homem que conduziu a ave nuvens e ventos fora, com direito a faixas, banda de música e discurso de agradecimento. Por isso, e na impossibilidade, bato palmas. Bato palmas, sim senhor, e digam o que disserem, que é provinciano, pequeno, trengo, que eu não quero saber. Continuarei sempre a mostrar o meu enorme apreço por quem me faz atravessar o mundo em duas asas.
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