28 julho, 2021

o que importa

Quando fui mãe pela primeira vez, nasceu um medo que até à data não tinha tão presente; um medo enorme de doenças, de catástrofes, de problemas. No primeiro ano a C. teve algumas bronquiolites e eu das primeiras vezes entrava em pânico. Quando na verdade, fossem essas todas as doenças do mundo. O P. dizia sempre que, havendo diagnóstico e cura sem sequelas, estava sempre tudo bem. E começamos a dizer todos que o que importa é ter saúde. A C. foi crescendo a ouvir esta frase e quando era pequenina, mas já falava, se ela fazia alguma asneira e nós chamávamos à atenção (riscou uma parede, partiu um copo, esse tipo de coisas), ela respondia logo na ponta da língua que "isso não importa; o que importa é ter saúde." É uma frase chave em nossa casa.

Quando a ideia de uma nova tatuagem se começou a materializar, eu sabia que teria de ser uma espécie de terapia, uma recordação presente da graça que devemos dar pela sorte que temos, da gratidão imensa que tenho. Mas sou muito stressada, sofro por antecipação, panico com bastante frequência, o meu coração acelera depressa. Nem sempre me consigo lembrar que os filmes que a minha cabeça faz, na maior parte dos casos são mesmo só filmes e está tudo bem. O P. é muito bom a por-me no lugar e eu queria uma tatuagem que fizesse o mesmo.

Primeiro comecei a achar que teria de ser algo na onda da gratidão, obrigada, grata. No fundo é metade do que sou, imensamente agradecida pela sorte que nem se mede que temos. Mas a dada altura, e já depois de ter data agendada, lembrei-me da nossa frase casa: o que importa.

A tatuagem que fiz é uma terapia em fine line. 

Está na parte de trás do braço esquerdo, mesmo acima do cotovelo, são três palavras em letra fininha e perfeita e mesmo que quem a vê tenda a perguntar "mas o que é que importa?" (e eu responda, a brincar porque sou aclubístíca, que "é o benfica"), ninguém precisa de saber o que ela realmente diz. É perfeita como está e a mim diz-me tudo.

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