09 junho, 2024

Carta aberta. À minha filha que faz 2 anos

 L.

Vou começar como sempre começo estas cartas: custa-me a crer que já tenhas, mesmo, dois anos. Primeiro porque o tempo voou; segundo porque és tão despachada, que podias muito bem já ter três ou quatro (mas ainda bem que não).

Aos dois anos dizes absolutamente tudo, todas as palavras mas sobretudo todos os raciocínios, os mais incríveis e que nos deixam boquiabertos.

Há dias ia lavar-te o rabinho e disseste: não precisa lavar o rabinho, já lavei ontem.

E quando pediste batata e te disseram que era preciso perguntar à mãe, respondeste que "não vale a pena", porque sabes que eu ia dizer que não.

Vês as pessoas arranjadas e dizes que estão bonitas.

E abres a porta, sais de casa e dizes: vou à rua, venho já. Ou que queres ir "dar uma voltinha" ou comprar alguma coisa no supermercado.

Não há dia nenhum que não nos surpreendas com pedaços de sabedoria dos dois anos - e é mesmo uma idade maravilhosa.

Adoras chupeta, mas tem de ser sempre duas - uma na mão e uma na boca. E gostas de leitinho de manhã. E adoras comer, fruta e iogurtes sobretudo. Comida, tem dias. Mas sopa pode ser sempre. Gostas de tudo o que seja porcarias, gelado, chocolate, batatas fritas (e sim, nós somos maus pais!)

Tens toda uma coisa enorme com as manas e é engraçado porque tens de confirmar sempre que estão as duas. Se por acaso só vem uma da escola ou uma não está, perguntas mil vezes pela outra. Acho que para ti, são um pack de três.

Na semana passada fizeste uma aula de ginástica pela primeira vez e foste uma bully com as crianças, o que eu suponho que seja a necessidade de te impores face a duas irmãs mais velhas, mas para ti era sempre a tua vez. Vamos trabalhar nesta coisa da partilha, prometo!

Dormes muito bem de noite, acordas cedo, ainda usas fralde de dia e de noite (outra coisa a trabalhar) e és uma pessoa da rua, do jardim, do pátio, do escorrega, do baloiço, do mundo no fundo porque o que queres é sair - principalmente se for a pé, que é muito mais fixe do que carrinho.

És mesmo, mesmo bem disposta e alegre e feliz e é uma felicidade ver-te crescer. 

Comes muito bem sozinha, tudo com a esquerda (comer, fazer desenhos, pintar). Gostas de bebés. Adoras ver Cocomelon, mas até há pouco tempo era panda. Gostas muito da piscina, mas só nas escadas. Boia nem pensar. Areia da praia também não (mas dá-lhe tempo).

Perguntas constantemente "como se chama isto" ou "quem é este" para coisas ou pessoas que não conheces e és super curiosa. Depois decoras tudo o que ensinamos.

Dizes patépeté para colher; jibau para chocolate; e bjibji para iogurte. Mas dizes igualmente bem colher, chocolate ou iogurte. E dizes que couscous é massa, que é só amoroso. 

Contas até 5, às vezes até 10. Conheces os animais todos. E sabes o nome de toda a gente da nossa família. E onde vivem as avós e tu e a Sofia, que é na Irlanda e é muito longe e temos de ir de avião. 

Podia ficar até aos três a falar de todas as coisas que sabes, porque é fascinante. Toda a gente se admira, tão pequenina e sabe tudo. E mesmo para nós que estamos aqui todos os dias a ver, é mesmo maravilhoso.

Fazes parte desde sempre, fomos sempre um pack de cinco.

Gosto muito de ti, minha Inha. 

Parabéns a nós.

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