Ao longo dos anos tenho estado convencida de que 1) um homem e uma mulher podem ser amigos entre si sem que daí resulte necessariamente algo mais que uma amizade, mesmo que ambos estejam solteiros e 2) num grupo de amigos não existe e nem faz sentido essa ideia de "fazer de vela" quando uma parte é casal e a outra não, mesmo que essa outra seja em menor número.
Posto isto;
O nosso grupo de amigos residente em Lisboa é composto por cinco homens e três mulheres. Das oito pessoas, seis são três casais e duas dois solteiros. Convivemos amigavelmente e com frequência e o ano passado decidimos (cá por casa, de resto) instituir a prática dos jantares mensais rotativos nas nossas humildes habitações. À cabeça, e para dar o exemplo, o primeiro jantar foi cá em casa. Nesse mesmo dia sorteamos (com o precioso auxílio do bingo de shots - long story) a quem calharia a rifa do seguinte. Cumpriu-se no mês a seguir, na casa de um dos outros casais. E nesse dia decidiu-se o próximo, curiosamente também (ou não) na casa do casal três. No dia e hora fez-se o jantar. E nessa data esgotou-se a rotatividade dos casais. Chegue-se portanto à frente o primeiro solteiro (ou não, que por mim dá-me igual e faça-se até sempre cá em casa). Um deles, feliz habitante de um T0, declarou falta de condições para albergar o grupo, justificação aceite por unanimidade e aclamação. Amigos na mesma. O outro, e na verdade era justamente aqui que queria chegar (mas já se sabe a história da volta à volta da terra antes de chegar ao centro), o outro, dizia eu, informou os restantes que não mais participaria nos jantares mensais, que isso é coisa de casais. Sem querer transformar isto numa guerra de sexos (que só quem tem mulher em casa pode pôr de pé jantares assim ou outras pérolas do género), ponho a minha teoria (enunciada sob o número dois nas primeiras linhas destes texto - lá longe, portanto) em causa. Que uma coisa é de facto que uma pessoa solteira não queira estar junto de duas casadas - e eu compreendo isto; coisa diferente é um amigo evitar a presença dos amigos porque, lá calha, alguns são casados entre si. Não percebo, pronto. Neste grupo somos (ou devíamos ser, vai-se a ver) amigos. Não somos casados nem solteiros nem juntos nem separados. Viramos grupo. E isso devia bastar para pôr de lado estas exclusões sem sentido, sob pena de não sermos "o nosso grupo" mas metade. Que grande parte do encanto de Lisboa somos nós.
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