Uma casa vazia

A profissão do P. faz com que tenha de viajar com grande frequência. São raras as semanas em que não tem pelo menos uma ida a um qualquer país da Europa (geralmente ir e vir no mesmo dia ou dia seguinte). Com menos frequência agora, Estados Unidos e este ano já Austrália, China e Índia, em viagens maiores.

Depois do ano e pouco em que viveu nos Estados Unidos e que correspondeu exactamente ao primeiro ano de vida da C., qualquer viagem parece em teoria mais pequena. Nada jamais se poderá comparar a ter vivido noutro país, com visitas ocasionais a casa de poucos dias e estamos imensamente gratos por isso ter acabado.

Ainda assim, porque somos insatisfeitos e sobretudo temos a capacidade fantástica de esquecer e desvalorizar o que passou, as viagens de dias parecem demasiado longas. Estamos naquela ponto em que já não nos lembramos como é que aguentamos um ano separados e não fazemos ideia como vamos aguentar duas semanas.

Com esta agravante.
A C. sente agora a falta do pai. Pergunta por ele (ela sabe que está a "trabalhar no avião") e faz algumas das brincadeiras que fazem os dois juntos. Mas tem saudades. E fica um bocadinho zangada quando ele chega. Já cobra, este piolho de dois anos.

Depois, a casa fica mais vazia. E não é por ele medir dois metros; é porque há mais silêncio, daquele que não gosto. Há seguramente menos gargalhas de C., que ri o tempo todo que está com o pai e há menos brincadeiras, menos asneiras, menos confusão. Não gosto da nossa casa assim. Gosto quando estamos os três e tudo é música, barulho e riso. Falta definitivamente alguma coisa neste puzzle que é a nossa família se o P. está fora. E desta vez, são duas semanas em que não estamos completos.

0 Coisas dos outros