Olá Lisboa

Foi contrariada que vim para Lisboa, não vale a pena mentir.
Tinha estudado cinco anos fora, mas voltar a casa aqueles dois anos no fim do curso para ir trabalhar, mudaram radicalmente a minha posição em relação ao afastamento. De repente nem podia imaginar a minha vida fora dali, do conforto, da segurança.
Parti para Lisboa contrariada, só feliz por finalmente irmos viver juntos. Nada fazia mais sentido, mas eu preferia que fosse noutra cidade.

Os primeiros meses foram dificeis. Criei até uma barreira em relação à zona para onde fomos viver. Não trabalhei no primeiro mês e dava comigo a chorar de vez em quando. Passava os dias presa em casa, não conhecia nada nem ninguém. O P. martirizou-se por ter de trabalhar e me deixar sozinha. Desesperei à procura de trabalho.

Lá chegou ao fim de um mês. Foi uma melhoria gigante na minha vida. Um alívio. Permitiu uma série de coisas e uma delas foi começarmos a ver casas para mudar. Viemos para ao Parque das Nações ao fim de alguns meses. Foi a melhor decisão que podíamos ter tomado.

Viver em Lisboa começou a ficar mais fácil. Depois a ser bom. Criei as minhas rotinas, os meus espaços. Estendi as minhas raízes. As senhoras do supermercado tratam-nos pelo nome e viram a C. crescer. O senhor do café vê-nos ao longe e quando chegamos à mesa já lá está o pedido que íamos fazer. Fazemos a vida a pé e de bicicleta. Só saímos quando temos vontade.

A verdade é que vim contrarida para Lisboa mas hoje em dia adoro viver aqui. A nossa casa, a nossa zona, encaixa tudo tão perfeitamente, faz tanto sentido. Não pensei chegar aqui mas chegamos e somos felizes. Somos muito felizes em Lisboa.

Isto posto, é com desejos da mesma felicidade que estamos de partida para o Norte. O nosso Norte, onde o sangue fala mais alto, onde esperamos voos iguais. Dentro de dois meses passarei a escrever com vista para o Douro e não para o Tejo. E eu, que passei tanto tempo a desejá-lo, sinto agora um pequeno aperto ao pensar nisso.


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